domingo, 15 de julho de 2007

Vagueio em ti

Vagueio pelos traços do teu rosto, no silêncio de uma noite que ficou. Rosto sorridente e tristonho, de uma vida arrancada ano após ano, pessoa após pessoa, num passado que não consegues apagar.

O tempo vai e uma imagem permanece, um cheiro visita-me, mas tu não estás.

Rasguei as conversas, apaguei as cartas. Chorei os momentos de todas as certezas, As mãos, o olhar, a voz que se foi, num vazio que teima, numa solidão que queimo todas as noites, todos os dias, entregando-me, sem entrega, indescriminadamente, sem amor.

Será que em algum momento te lembras da minha voz, das minhas palavras, do meu olhar no teu, da noite em que nos conhecemos?
Das tuas mãos tocando o meu cabelo, como pretexto para, de uma maneira qualquer me tocares, chegares a mim, e no beijo, no abraço que se deu?

Que ficou dos dias, das noites? Resignação ou, simplesmente, foi tudo vazio de significado?

Tento esquecer-te. Os meus dias, as minhas noites revolvem-se em torno de ti, num rodopio que me enlouquece, que me transcende, num quaquer desejo emocional e físico que não sei explicar.

Sinto-te, desejo-te, sorrio-te, choro-te e amo-te.

Atraio-me para ti, no segredo da tua ausência, sempre presente, e faço amor contigo todos os dias, todas as noites, imaginando-te ali. Dispo-te suavemente, em cima de uma cama imaginária e olho as tuas costas, o teu tronco suave, em segredo, desaperto-te a camisa azul-escura devagar, enquanto me olhas, com um olhar natureza semi-cerrado, excitado, emocionado, sucumbido à magnitude das minhas mãos coladas ao teu corpo.

As tuas, permanecem quietas e observas cada passo que dou. O teu olhar não se move do meu. Beijo-te incansavelmente os ombros, as costas, o rosto, os olhos, o corpo e retorno aos olhos, ao rosto e de novo ao corpo despido, tudo aquilo que já conheço, mas que nunca vi.

A tua mão apenas sobe ao meu cabelo, para tocá-lo e os teus olhos fecham-se, fruto da incredulidade do que vês, do que sentes, do que sempre sentiste. Fruto da espera, que parecia nunca mais chegar. Longa espera de um desejo acumulado que se manifesta sem pressa, devagar.

Conheço todos os contornos do teu rosto, do teu corpo, embora seja a primeira vez que o vejo, que o toco. Paro, olho-te e sorrio.

Sem tirares os olhos dos meus, as tuas mãos descem timidamente pelo meu corpo vestido.
Esperáramos muito tempo por esse momento, que nos invade com emoções díspares, confusas, num querer e não querer, numa necessidade seguinte de fuga, por semelhança, por protecção, por não poder ser, mas estamos ali e entregamo-nos um ao outro de forma única e singular, qual primeiro amor, mesmo que impossível de ser vivido, que se experiencia na adolescência.

Noite única, de entrega plena. Noite única, inigualável antes ou depois. Atracção e amor vividos apenas numa noite. Sinto ali que me amas. Sentes ali que te amo. E isso é quanto basta para a vida poder seguir.

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